5/04/2010

Compostagem orgânica: tecnologia ambiental que também aumenta a produtividade
Além de resolver problemas do lixo, técnica transforma resíduos orgânicos em adubo e pode elevar produtividade em 20%



A compostagem de resíduos orgânicos pode ser considerada uma tecnologia ambiental exemplar. Além de resolver um passivo para o meio ambiente, muito comum nos dias de hoje, que são os resíduos de matéria orgânica, transforma o material em um adubo que pode ser usado na agricultura e faz a produtividade aumentar em até 20%. A técnica é muito simples, mas exige cuidados básicos. É preciso misturar diferentes tipos de resíduos como restos de alimentos, esterco de animais, podas de árvore e sobras da plantação, como palha de milho e de feijão. Em um formato retangular (que pode ter até 4 metros de comprimento, 2 m de largura e 1,5 m de altura), a mistura de todo este material orgânico cria uma intensa atividade microbiana e gera muito calor interno. A temperatura dentro da leira pode chegar a 65ºC, o que é muito importante porque mata bactérias e possíveis patógenos misturados aos resíduos. É a transformação do lixo em adubo.

A compostagem é uma tecnologia para tratar resíduos orgânicos em geral, incluindo alimentos, que podem vir de uma cozinha industrial de um restaurante ou de uma horta. Ela basicamente se concentra na mistura de diferentes resíduos. Geralmente a gente faz essa mistura montada em pilhas ou leiras, em processos que podem ser manuais ou com a ajuda de máquinas. Esta mistura toda de resíduos acaba aquecendo, se degradando e se tornando um fertilizante orgânico, contendo os nutrientes que havia inicialmente no material original e também carbono orgânico. O produto final da compostagem é geralmente chamado de composto orgânico, mas a gente pode chamar também de fertilizante orgânico ou adubo orgânico — explica Caio Teves, pesquisador da Embrapa Solos.

O adubo orgânico gerado pela mistura feita na leira é excelente para a agricultura. A primeira vantagem é que, como há intensa mistura orgânica, o adubo natural consegue devolver muitos nutrientes ao solo e suprir as necessidades nutricionais da planta, o que faz a produtividade aumentar em até 20%, se a mistura da leira tiver sido bem feita. Outro grande benefício é o financeiro, porque o adubo orgânico potencializa a ação dos fertilizantes comerciais. Muitos fertilizantes têm dificuldade para penetrarem bem o solo e boa parte é perdida nas chuvas, obrigando o produtor a aplicar repetidas doses. Como o adubo da compostagem é muito rico em matéria orgânica ele facilita a penetração do fertilizante e potencializa a sua ação. Isto significa que o produtor não vai precisar fazer tantas aplicações do produto e vai economizar dinheiro.

Geralmente uma tecnologia ambiental apensa resolve um problema, a compostagem tem um benefício a mais. O grande problema hoje, tanto no meio urbano quanto no meio rural, é a geração de resíduos orgânicos em quantidade. No meio rural, principalmente esterco de aves, suínos e bovinos. É uma dificuldade tratar este material, que é rico em nutrientes, mas rico em matéria orgânica que gera mosca, gera mal cheiro, não pode ser jogado próximo a rios porque causa poluição no curso d'água, então é um material potencialmente poluente. Misturando o esterco à leira de compostagem este problema está resolvido. A grande vantagem da compostagem é que além do produtor resolver os seu problema de resíduo, ele consegue um adubo orgânico que vai gerar benefício no solo da sua lavoura e vai ajudar no seu cultivo — ensina Teves.

O pesquisador lembra que o produto final gerado pela compostagem, o fertilizante orgânico, não possui cheiro e pode ser armazenado na fazenda por um longo tempo até que o produtor sinta a necessidade de fazer uma nova adubação na sua plantação. O custo da técnica é muito baixo, uma vez que o material usado na mistura é a sobra de resíduos da fazenda e o material usado para trabalhar a leira é muito simples. O agricultor pode usar o seu próprio ancinho, garfo agrícola e um trator simples. Não é necessário gastar dinheiro com a compra de material específico.

No entanto, apesar da técnica apresentar diversas vantagens, alguns cuidados básicos precisam ser tomados. É preciso prestar atenção para não fazer a leira em locais onde possa haver alagamento e escolher uma área da propriedade, se possível, que tenha alguma inclinação para facilitar a drenagem para não acumular água. As paredes externas da leira devem ser feitas de palha, grama ou restos vegetais e o ideal é que a primeira camada da leira seja de pó-de-serra ou maravalha e a última camada seja de grama. Sempre que uma nova camada for acrescentada na leira não pode esquecer de mexer na pilha para misturar os resíduos, não adianta simplesmente ir jogando uma camada sobre a outra, a mistura é essencial. Depois que a pilha da leira atingir a altura máxima (não deve passar de 1,5 metro) ela deve ficar descansando durante 15 dias. Só após este período o produtor deve utilizar o material como adubo.

Uma coisa muito importante é que às vezes o produtor colhe o que vai ser vendido e deixa folhas largadas no solo que estão com doenças. Isto é muito problemático porque está mantendo o inócuo da doença na lavoura. Se ele misturar estas folhas nas leiras de compostagem, com a alta temperatura, os patógenos serão mortos e ele vai acabar com mais este problema. Só é preciso prestar atenção para fazer a compostagem correta, usando matéria orgânica rica para que a atividade microbiana seja intensa e as temperaturas fiquem bem elevadas — alerta.

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S.R.S